domingo, 5 de abril de 2015

Crônica: O olhar perdido.

Autoria do texto: Sérgio Luiz de Mello
                                             Crédito da imagem: Bruno Fracaro Barros

    E Pedro caminhava pesadamente após a triste despedida. Lia transformara-se em sua frente, o deixara perplexo e perdido, pois, acostumado às brigas corriqueiras, não imaginava que naquele fatídico momento, eles haviam colocado um ponto final, nada mais restara após aquelas duras palavras e do tapa que queimara a face.
   Antes de virar a esquina, sentiu as pernas duras, o corpo latejante e a cabeça confusa.Num misto de amor, raiva e saudade, Pedro virou-se para contemplar pela última vez talvez, aquela doce menina com que namorara, a sua Lia, que provavelmente seria de outros e, quem sabe de mais um outro único, com que se casasse e constituísse uma família.
   Tal como estátua, Pedro parou no tempo e no espaço. Sentiu as pernas pesarem toneladas, fazendo-o fixo naquele ponto da esquina, não conseguia ir nem para frente, tampouco para trás. Sentiu uma brisa bater-lhe nas faces e mover seus lindos cabelos negros, crescidos e bem cuidados.
    Já não foi o mesmo que aconteceu com Lia, como já lemos em outra parte da história. Ele ficara ali por longos minutos e começou passar diante de si, um filme da sua vida, dos momentos felizes, do começo de sua história com Lia, de sua traição e dos momentos derradeiros do seu amor.
   O que poderia fazer de hora avante? O que faria para viver sem Lia, suas manias e frescuras que tanto lhe faziam bem? Pedro começou a analisar matematicamente cada palavra proferida, cada olhar, cada gesto. Enfim, não conseguia entender o porquê de tudo aquilo.
   De repente, sentiu que a  mente recobrou-lhe os sentidos e começou a mover-se. Não poderia ficar ali plantado como uma árvore na esquina, pois, não era. Era um jovem que havia rompido uma relação mas que precisava construir outros laços e a vida teria que continuar.
   Caminhou rumo a sua casa.Sentiu sede e entrou num bar no caminho. Pediu um refrigerante e começou a tomá-lo, neste momento, encostou ao lado uma menina ruiva, muito ofegante e logo puxou conversa.
  --- Hei você!! Que horas tem?
  --- Hã!! Horas? São 17h.
  --- Nossa!! Como o tempo passou!! Está escurecendo e tenho que passar a ponte do Rio Paranapanema para chegar até a minha casa, antes das 18h.
 --- Você está sozinha? Posso te acompanhar até um certo ponto do caminho!
 --- Não precisa se preocupar!! Vou ligar para o meu pai e talvez ele já esteja de saída para casa. Eu que lhe ofereço uma carona. Para onde você vai?
 --- Deixa pra lá!! Vou mais perto. Moro na Vila São José. É mais perto do que na tua casa.
--- Larga mão de ser chato, meu!! Pra cima de mim com papo machista!!
--- Imagina, só não quero te chatear com os meus problemas!!
--- Problemas? Quem os não têm? Eu por sinal, sou um poço de problemas!!
--- Eu terminei com a minha namorada!! Faz talvez uma meia hora!
--- Sorte a sua!! Eu pelo menos nem namorado tive para terminar qualquer coisa!! kkkkk
--- Como assim? Nunca namorou? Nunca abraçou? Nunca beijou?
--- Só nos meus sonhos, querido!! A propósito, qual é o teu nome?
--- Pedro!! Prazer em conhecê-la!!
--- Beatriz, mas todos me chamam de Bia!!
--- Bia ??- resmungou: Caramba o nome é diferente mas o som se parece com...
--- Parece com o quê? Tá tirando com o meu nome, é?
--- Não não!! Bia é lindo como a dona dele!!
--- Não me venha com xaveco barato, viu? Sou uma menina de respeito!!
--- Tá aí!! De respeito!!
--- Tá de zueira é?
--- Não, nada a ver!! Tá de pé o lance da carona, Bia?
--- Lógico, sou uma menina de palavra!!
--- Legal, vou contigo!!
  Neste instante chegou o pai de Bia num Uno prata. Os dois entraram e alguém visualizara os braços de Pedro contornarem os ombros de Bia.
  "Lá vai o mulherengo de uma figa!!"- pensara Lia que estava à espreita do ex-namorado que agora já estava em outra. Homens são todos iguais!! Caras de pau!!"
  Pensou então nuns versos de Leandro e Leonardo: "Não aprendi a dizer adeus/ Mas tenho que aceitar/ Se tens que me deixar/ Que sejas então feliz!! Outros versos da mesma música vieram-lhe posteriormente: "Amores vem e vão/ São aves de verão!" É isso aí Pedro, você já foi e outro chegará na minha vida.