Do livro "Memórias Inventadas -As infâncias de Manoel de Barros". (Editora Planeta), pág.39.
" Hoje eu completei oitenta e cinco anos.O poeta nasceu aos treze.
Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que moravam na fazenda, contando que eu já decidira o que queria ser nó meu futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor de curar nem doutor de fazer casa nem doutor de medir terras. Que eu queria era ser fraseador.
Meu pai ficou meio vago, depois de ler a carta. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria ser fraseador e não doutor.Então, o meu irmão mais velho perguntou: Mas esse tal de fraseador bota mantimento em casa?
Eu não queria ser doutor, eu só queria ser fraseador. Meu irmão insistiu:
Mas se fraseador não bota mantimento em casa, nós temos que botar uma enxada na mão desse menino pra ele deixar de variar.A mãe baixou a cabeça um pouco mais.O pai continuou meio vago.Mas não botou a enxada."
COMENTÁRIO: Neste texto de memória Manoel de Barros conta-nos um fato muito interessante de sua vida e nos convida para refletir sobre a importância da devida valorização da Educação. Se fosse contentar a vontade do pai, ele se formaria doutor, mas optou em seguir o caminho da escrita das palavras. O seu irmão mais velho, não compreendendo a sua opção de fraseador ou de escritor, indignou-se e questionou se esta profissão daria futuro, se teria reconhecimento e dinheiro para o sustento de sua família.
Nisto, seu irmão sugeriu que o pai colocasse nas mãos do pequeno Manoel uma enxada, para que deixasse de variar com a ideia. O pai e a mãe, mesmo duvidosos, não atenderam o pedido do filho mais velho e permitiu que nosso futuro grande escritor, seguisse o seu dom, o de escrever belas histórias e palavras.
Por isso, os pais devem ouvir seus filhos e deixá-los seguir os seus caminhos, visualizar as suas habilidades e, nunca desmerecer o que a Educação pode realizar na vida das pessoas.
Prof.Sérgio.
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